quinta-feira, 21 de maio de 2009

Disciplina em Pré-Escolares



Não é possível, em uma postagem, abordar com profundidade a questão da disciplina. A verdade é que poderíamos dedicar todo um blog, volumes e volumes de livros e horas (anos) de conversas e não esgotaríamos o assunto.

Brazelton fala que, fora o amor, a disciplina é o segundo presente mais importante que um pai dá a um filho. Mas o amor parece simples de dar enquanto a disciplina gera inúmeras perguntas complexas.

Os pais querem filhos bem comportados, mas não querem privá-los de sua criatividade, bom humor, exploração... Queremos crianças que entendam que limites existem, mas que têm a autoconfiança e motivação para se superar a cada dia.

Um limite nada mais é que um marco que não se consegue ou não pode ultrapassar. Superar a limitação de falta de mobilidade e aprender a andar é aplaudido com palmas e essa conquista é contada com orgulho por pais e familiares. Já ultrapassar a porta do banheiro e enfiar a mão no vaso, subir no banquinho e tentar subir na mesa, tentar “escalar” o berço e sair de dentro dele sozinho… esses são limites que não queremos que a criança “supere”.

Não é fácil para a criança (que está assimilando tantas novas informações) entender que tem algumas coisas que queremos que ela conquiste, enquanto tem limites que não podem ser ultrapassados.

Entender que limites devem ser instituídos não é a dificuldade. A maior parte dos pais, cuidadores e professores reconhece que limites são importantes e que devem ser implementados. A dificuldade está em definir e manter limites com consistência e eficiência. Não é uma tarefa fácil.

Um conceito importante é entender que disciplina e punição não são sinônimas. Disciplinar é ENSINAR. O objetivo é ensinar à criança até que ela consiga alcançar a autodisciplina. No entanto, é importante lembrar que isso não se alcança de uma vez! É um longo processo e educar, ensinar e disciplinar implica em repetir, repetir e repetir...

É com quem amamos mais e temos mais certeza de amor e segurança que temos coragem de testar nossos limites. O ambiente do lar, com os pais e a segurança do conhecido, é o local onde a criança mais testa seus limites e tem comportamento de "provocação".

Para que a criança entenda que o não é NÃO, ela tem que estar certa da sua segurança em instituir o não. Se um limite é bem definido e você tem certeza e segurança daquele limite, o seu filho vai entender que aquele limite é real. Se você variar, demonstrar insegurança, tiver dúvidas no limite, seu filho vai perceber sua incerteza e irá ter mais dificuldade de respeitar o limite.

Talvez a coisa mais importante no estabelecer limites seja de escolher suas "batalhas". Não diga não para tudo. Guarde energia e esforço para as coisas que realmente são importantes. Mas uma vez dito não, o não deve ser não. Quando mudamos de postura, mostramos incerteza ou desistimos de um limite à criança recebe uma mensagem de dúvida e não consegue assimilar o limite.

Aprender um limite - que é um dos objetivos da disciplina e autodisciplina - passa por algumas etapas. Primeiro a criança "testa" os limites explorando o ambiente onde ela vive. Uma vez recebe uma reação (desaprovação, não, remoção física do local, etc) ela passa a brincar com o limite e "testar" os cuidadores. Ela brinca com o limite com o intuito de gerar uma reação por parte do adulto e assim ela consegue compreender melhor o que pode ou não fazer. Só depois de passar por esse período de teste a pessoa é capaz de internalizar o limite e, sendo assim, se auto-regular de forma a respeitar o limite imposto.

Muitas vezes pais e cuidadores não compreendem o processo e acham que a criança está os "desafiando" com rebeldia. A verdade é que é necessário ter paciência e tolerância. Repetir... Repetir... Repetir.

Há muita preocupação com relação a excesso de liberdade ou excesso de rigidez. É importante colocarmos limites, mas é também essencial que a criança não seja "quebrada". Devemos nos preocupar e considerar que pode estar havendo excesso de rigidez, quando uma criança é excessivamente quieta e tem medo de expressar seus sentimentos, quando há muita sensibilidade a críticas, quando a criança não o testa como seria o usual para a idade dela, quando a criança não tem senso de humor ou alegria, quando a criança passa grande parte do tempo irritada ou ansiosa, quando há sinais de pressão e/ou opressão em outras áreas (sono, alimentação) ou começa a apresentar sintomas de regressão ou quando a criança está excessivamente agressiva.

Não tem receita de bolo para educar e disciplinar. Mas é importante lembrar de respeitar e compreender a fase de desenvolvimento que a criança se encontra nela - não se pode exigir mais do que a criança é capaz de fazer. É importante respeitar o temperamento da criança - crianças diferentes respondem de forma diferente. Seja um exemplo. Quando seu filho está com outras crianças dê espaço para que, dentro de um limite razoável, elas resolvam os conflitos entre si. Seja firme. Se necessitar conter a criança para que pare com um comportamento que considera inaceitável, seja firme e tenha convicção (por exemplo ao segurar a mãozinha para evitar que dê tapas em colegas ou em você). Ao término, explique novamente porque o disciplinou e, na medida em que a criança cresce, peça a ela que repita e te explique o que ela fez de errado. Lembre de dizer sempre que o ama... Aos poucos ele passa a compreender o limite como prova desse amor.

E, finalmente, lembre de reforçar e estimular todo comportamento positivo e toda vez que a criança conseguir se autodisciplinar e limitar uma ação que ela sabe ser errada.

Sugestão de Leitura: Touchpoints - T. Berry Brazelton

5 comentários:

Renata disse...

Amarilis, adorei o post. Cheguei aqui por indicação da Ana Claudia Bessa e até me inspirou pora postar sobr eo assunto. Num primeiro momento confesso que me incomodei um pouco com o uso da expressão disciplina, mas lendo o post todo percebi que minhas ideias são muito parecidas com as suas.
Ah, Brazelton foi indicação de leitura da minha homopata para questão de alimentação.
parabens por tocar no tema.
Renata

Amarilis Iscold disse...

Oi Renata!

Seja bem vinda ao nosso espaço!

A idéia de "disciplina" e instituição de limites sempre assusta, não é? Queremos filhos livres... mas também queremos filhos que tenham consciência de que o limite de um é, muitas vezes, um mínimo de respeito à liberdade do outro...

Brazelton é uma ótima referência - em diversos assuntos!

Abraços,
Amarilis

Unknown disse...

Oi Amarilis,
Minha dificuldade é em disciplinar meu filho quando ele está com sono. Ele fica muito irritado antes da soneca da tarde e faz muitas coisas inaceitáveis. Entendo que ele precisa de uma punição pelo seu mal comportamento, mas ele parece que quando está com sono neste horário fica fora de si. Ele tem 2 anos e meio e a noite vai para a cama sem problemas, mas a tarde...
Fernanda

Amarilis Iscold disse...

Oi Fernanda,

Seja bem vinda!

Sono deixa todo mundo irritado mesmo, não é?

Uma dica seria colocá-lo para dormir ANTES desse momento de sono intenso e "chatice"... Tente perceber quando começa esse horário dificil e passe a instituir um "ritual" para soneca. Antes do horário "crítico" passe a ter um "ritual" (que seja ler um livro, tomar um suco, fazer um passeio de carrinho, etc) que dê a ele a dica de que logo tá na hora da soneca. Então coloque-o para dormir e insista no horário de descanso. Mesmo que não durma ele terá esse tempo (no mínimo 30 minutos ou 1 hora) para descansar.

Depois do descanso pode voltar a brincar.

Veja se assim funciona e mande um email para nos contar!

Abraços,
Amarilis

Ana Cláudia disse...

Amarilis, muito bom seu post. No fim de tudo, acho que o ideal é pautar-se sempre no afeto. Criar com afeto, sem super-proteger e sem negligenciar. O equilíbrio é fundamental e buscar ajuda quando necessário também. Dar limites plausíveis é importante para a própria criança, ela precisa dessa referência. Parabéns pelo post!