sexta-feira, 29 de maio de 2009

Quando ter um outro filho?



Houve uma mudança de paradigmas em relação à constituição e planejamento familiar ao longo das últimas décadas. Os casais têm tido filhos mais tarde, após terem feito investimentos pessoais e profissionais e têm tido menos filhos. O filho único tem se tornado cada vez mais comum em todas as classes sociais.

A primeira pergunta que um casal se faz é de ter ou não filhos. Optando por tê-los passam a questionar se terão, ou não, mais de um.

É muito comum, ao longo dos primeiros meses de vida do primeiro filho, os casais me dizerem (com toda convicção) que não terão, de forma alguma, outros filhos. Um basta.

Essa fase é de tão intenso envolvimento com o bebê, de tanta paixão mútua, de tanta dependência que não só não vêem como seria possível cuidar de outro, mas têm dificuldade de imaginar dividir tão intenso amor com outro filho. Há um sentimento de que não terão como oferecer a um segundo ou terceiro filho todo o amor que puderam dar ao primeiro por ser único.

Por outro lado, o encantamento com esse bebê delicioso trás também a certeza de que essa fase não dura para sempre e um gostinho de “quero mais” faz com que surja um desejo por ter outros.

Muitos perguntam (e foi um dos temas solicitados por leitores do blog e pacientes) qual a diferença de idade ideal entre filhos.

Depende... Não existe resposta certa para essa pergunta. O que pode existir é a resposta certa para você. É importante avaliar qual a sua disponibilidade de tempo, de dinheiro, de licença maternidade e/ou paternidade, de energia para lidar com cada fase da vida de uma criança, de flexibilidade para lidar com diferentes demandas e idades...

O primeiro ano de vida de uma criança exige uma dedicação mais intensa. O bebê é muito dependente e o vínculo afetivo, principalmente com a mãe, é bastante intenso.

O segundo ano de vida é marcado pelo negativismo. É o ano em que há maior demanda em disciplinar e educar, ensinar limites, repetir milhares de vezes até que a criança assimile conceitos básicos de cuidados e interação. É também um ano de intensa atividade física e a criança tem que ser monitorada constantemente, pois ainda não tem noção de perigo relativo a alturas, queimadura, etc.

No segundo ano a criança já passa a se interessar por outras crianças e bebês e passa a querer interagir com o outro. Pode imitar e tentar “alcançar” e interagir com crianças mais velhas como pode “regredir” na tentativa de imitar e conquistar espaço como as mais novas.

A partir do terceiro ano de vida a linguagem está um pouco mais sedimentada, a criança já está menos “negativa” e já quer imitar e conquistar mais os adultos que a rodeiam. Nessa fase a criança já tem uma maior facilidade e maior prazer em interagir com outras crianças e já começa a ter maior independência para realizar pequenas tarefas como ir ao banheiro, lavar as mãos, começar a tirar e colocar roupas, se alimentar sozinho, etc.

A partir dessa fase e já entrando na fase escolar e de adolescência, a dinâmica da relação entre pais e filhos muda um pouco saindo de um investimento de muita energia física (para ensinar a andar, correr, subir, pular...) para um investimento maior em diálogo e crescimento cognitivo e social.

Criar filhos com uma diferença de idade menor que 18 meses (1 ano e meio) é, de certa forma, como criar gêmeos. Tem suas recompensas (como se livrar das fraldas duplamente em um período relativamente mais curto na vida dos pais) e suas dificuldades (há uma fase de intensa demanda que pode ser fisicamente desgastante para as famílias e cuidadores).

Alguns pais optam por uma diferença de idade pequena com a esperança de os filhos serem, por isso, mais amigos e brincarem bem juntos. Uma diferença pequena facilita na hora de fazer programas familiares, passeios, brincadeiras, etc. No entanto, não deve ser a única motivação já que não há garantia de afinidade e a diferença de idade maior pode gerar um relacionamento próximo entre irmãos quando bem trabalhada. O irmão mais velho pode sentir que o bebê é “dele” e curtir ver o irmão mais novo desenvolver e aprender. Passa a ser um herói e pode se orgulhar disso.

Há, para algumas famílias, uma preocupação em espaçar os filhos devido aos custos (que muitos consideram maiores nos primeiros anos de vida) de criar filhos. Além do custo financeiro há a demanda de tempo e dedicação que cada filho demanda.

Essas são algumas das considerações que podem ser feitas e as únicas pessoas que são capazes de concluir, com algum acerto, qual o tempo certo são as pessoas que serão responsáveis por essas crianças.

Ao pensar em um segundo filho, os pais devem decidir o “quando” baseado mais em suas capacidades financeiras, profissionais, de energia para cuidar e brincar e educar, de tolerância com as dificuldades inerentes à disciplina, de tempo...

Não há resposta mágica!

Sugestão de Literatura: Touchpoints - T. Berry Brazelton

Um comentário:

Roberta A. disse...

Adorei o post. Estou avaliando a possibilidade de ter outro filho e tenho procurado orientação sobre o tema, especialmente para saber sobre o desenvolvimento psicológico da criança e qual o momento apropriado para inserir um bebezinho na familia. Obrigada!